PASSEIO SOCRÁTICO
Frei Betto
Frei Betto
Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos dependurados em telefones celulares; mostravam-se preocupados, ansiosos e, na lanchonete, comiam mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, muitos demonstravam um apetite voraz. Aquilo me fez refletir: Qual dos dois modelos produz felicidade? O dos monges ou o dos executivos?
Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: “Não foi à aula?” Ela respondeu: “Não; minha aula é à tarde”. Comemorei: “Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir um pouco mais”. “Não”, ela retrucou, “tenho tanta coisa de manhã...” “Que tanta coisa?”, indaguei. “Aulas de inglês, balé, pintura, piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: “Que pena, a Daniela não disse: ‘Tenho aula de meditação!’”
A sociedade na qual vivemos constrói super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas muitos são emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram que, agora, mais importante que o QI (Quociente Intelectual), é a IE (Inteligência Emocional). Não adianta ser um superexecutivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!
Uma próspera cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: “Como estava o defunto?”. “Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!” Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais…
A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é ‘entretenimento’; domingo, então, é o dia nacional da imbecilidade coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: “Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!” O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.
Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma sugestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globocolonizador, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer de uma cadeia transnacional de sanduíches saturados de gordura…
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: “Estou apenas fazendo um passeio socrático.” Diante de seus olhares espantados, explico: “Sócrates, filósofo grego, que morreu no ano 399 antes de Cristo, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.”
A RESSURREIÇÃO HISTÓRICA DE JESUS CRISTO
INTRODUÇÃO
A História é uma relação de fatos produzidos pelos homens. Hoje, já se diz que História são os feitos realizados por grandes homens. Jesus Cristo foi um grande homem, ele foi o único ser humano que dividiu a História da humanidade antes e depois dele. Todavia o fato mais intrigante da sua vida é a tentativa de entender ou alcançar a explicação de alguém que morre e ressuscita. A questionabilidade é o fato de que a ressurreição é considerada algo metafísico, sobrenatural, e considerada atualmente como supra-histórica, que foge à investigação experimental, e provavelmente não existiriam métodos científicos para poder comprová-la. A Ciência se baseia em experimento e observação. Logo, como comprovar um evento que ocorreu há cerca de dois mil anos atrás? História é Ciência, logo seria quase que impossível demonstrar a ressurreição pela Ciência. Todavia ela precisa ser examinada pelos mesmos critérios de outros eventos históricos. O desafio é extraordinário, propõe-se, neste artigo, provar a ressurreição pelo método judicial, usando também as ferramentas da Ciência, da Arqueologia, e da História. O método judicial baseia-se em três critérios, a saber, o testemunho escrito, o testemunho oral e as evidências materiais.
1. TESTEMUNHO ESCRITO
O testemunho escrito é claro no livro de Atos, quando ali se tem uma narrativa daquele que é considerado o primeiro historiador da Igreja (Lucas), e ele diz: “Se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas...” (At 1.3 VRC). Afirma o Dr. Josh McDowell (1985, p.39) “Lucas usou a palavra tekmerion, que dá uma conotação de uma prova demonstrável”. No Evangelho que leva o seu nome, Lucas diz: “... depois de acurada investigação desde o começo” (Lc 1:3 VRA).
As palavras “acurada investigação”, literalmente significam “seguir de perto”. O verbo significa “acompanhar uma coisa na mente”. Essa era a palavra usada para verificar os sintomas da enfermidade. Portanto, Lucas afirma ter feito cuidadosa investigação de todas as fontes, orais e escritas, que afirmavam ser relatos sobre a vida de nosso Senhor. (WUEST, 1986, p.50).
O capítulo 15 da primeira carta de Paulo aos Coríntios é o mais longo de suas cartas e se tornou credo do século 1, e ele nunca menciona o túmulo vazio já que acreditava na ressurreição e os evangelhos já se ocuparam com isto. Acredita-se que o livro de Marcos foi o primeiro a ser escrito. Assim sendo, é o mais antigo documento da Igreja, sendo fidedigno e extremamente confiável. Há questionamentos porque nos melhores manuscritos não aparece a passagem do capítulo 16.9-11. Fazendo-se uma análise, percebe-se que alguém já havia dito: “Ele ressuscitou”. O que já era prova suficiente da ressurreição de Cristo. É necessário afirmar que de todo Novo Testamento, existe apenas 0,5% de discrepância em datas, lugares e nomes, nunca em doutrinas. Todo ele enfatiza a ressurreição, sendo que 17 livros referem-se a ela explicitamente e 10 implicitamente. Esta é a mensagem dos discípulos, dos apóstolos, da Igreja, para demonstrar que este acontecimento não é uma lenda e Jesus não é um mito, já que se tem certeza na veracidade dos escritos documentais neo testamentários. O apóstolo Pedro pregou em Atos 2, no dia de Pentecostes e o tema era a ressurreição, onde quase três mil almas se converteram, como também na casa de um centurião gentio chamado Cornélio. Foi também a mensagem de Paulo no maior centro filosófico do mundo antigo que era Atenas. Quando Paulo apresentou Jesus (IESOUS) e a Ressurreição (ANASTASIS), foi aceito pelos gregos, já que estes cultuavam deuses machos e fêmeas, e pensavam ser um novo casal de deuses, e por isso ouviram o discurso de Paulo. Os próprios evangelistas demonstrariam nas narrativas bíblicas sobre a morte prematura de Jesus, seus constantes discursos sobre sua morte e ressurreição, como também que ele não seria vítima, mas o próprio idealizador do futuro que ele já conhecia antecipadamente. É a mensagem da morte e ressurreição, o KERIGMA.
Analisam-se os escritos do Novo Testamento por duas vertentes: a bibliografia e a manuscritologia.
1.1. BIBLIOGRAFIA
A Bibliografia é a distância ou proximidade que se tem do original à cópia mais velha. Comparando-se o Novo Testamento com as literaturas consideradas as mais antigas do mundo, vê-se:
Obra | Nº de Manuscritos Existentes | Anos desde o Original |
Homero - Ilíada | 643 | 400 |
Heródoto - História | 8 | 1350 |
Tucídides - História | 8 | 1300 |
Platão | 7 | 1300 |
Demóstenes | 200 | 1400 |
César – Guerras Gálicas | 10 | 1000 |
Lívio – História de Roma | 19+1 Parcial | 1000;400 |
Tácito - Anais | 20 | 1000 |
Plínio Segundo - História | 7 | 750 |
NOVO TESTAMENTO | 5700 | 50 a 225 |
Fonte: MUNCASTER (2007, p.183)
Platão que é uma das literaturas clássicas mais antigas do mundo se encontra apenas com 7 cópias e com uma distância do original de 1300 anos, comparando com o Novo Testamento tem-se 5.700 cópias, tendo ainda de 8.000 a 10.000 da Vulgata Latina e cerca de 8.000 na Língua Etíope, Eslavo e Armênio com uma distância do original de cerca de 50 a 225 anos.
1.2. MANUSCRITOLOGIA
A segunda vertente é a Manuscritologia que comprova que quanto mais perto se está do original, mais remota é a chance de erro, aumentando consideravelmente a fidelidade do texto e a facilidade de reconstruir o original. Por isto, segundo Lee Strobel, (1998, p.346), “Paulo está desafiando os céticos da sua época sobre a possibilidade de conversar pessoalmente com as testemunhas oculares da ressurreição de Cristo (1 Cor 15 )”. Há também evidências seculares que confirmam os acontecimentos narrados sobre a Ressurreição:
Flávio Josefo, historiador do 1 século afirma no seu livro sobre a História do povo Judeu, publicado em 94 d.C. “...pois Ele apareceu vivo novamente no terceiro dia, como os divinos profetas haviam profetizado...” (MUNCASTER, 2007, p.196). Cornélio Tácito, um anticristão, que era procônsul na Ásia Menor, escreveu 12 volumes intitulado Anais por volta de 115 d.C. ele afirma “... Cristo o fundador desse nome, foi condenado por Pôncio Pilatos, procurador da Judéia; mas a nova superstição...rompeu novamente...”. (MUNCASTER, 2007, p.197).
Esses termos “nova superstição” ou “má superstição” eram usados pelos historiadores para definir sobre a ressurreição de Cristo. Muitos outros historiadores como Plínio, o Moço e Suetônio atestam estes fatos históricos. Segundo Hank Hanegraaff (1984,p.41) “Historiadores seculares – inclusive Josefo (antes de 100 d.C.), Tácito (c. 120 d.C.), Suetônio (110 d.C.) e o governador romano Plínio, o Moço (110 d.C.) – confirmam os muitos acontecimentos, pessoas, lugares e costumes descritos no Novo Testamento.”. Há também narrativas de Pais da Igreja:
Tertuliano em sua Apologética, disse:
Quando a fama da notável ressurreição de nosso Senhor e Sua ascensão se espalhou, Pôncio Pilatos, de acordo com um antigo costume de comunicar novos acontecimentos ao imperador, para que nada lhe escapasse, transmitiu a Tibério, o Imperador de Roma, uma narrativa da ressurreição de nosso Senhor... Tibério mencionou o assunto ao Senado, que, não conhecendo os fatos, rejeitou-o. A integridade desta passagem é aceita até mesmo pelos críticos mais céticos. (EVANS e ORDER, 2000, p. 75).
É importante ressaltar que:
Os líderes da igreja primitiva, como Irineu, Tertuliano, Júlio Africano e Clemente de Roma – todos escreveram antes de 250 d.C. – também lançam luz na precisão histórica do Novo Testamento. Até historiadores céticos concordam que o Novo Testamento é um documento histórico notavelmente preciso. (HANEGRAAFF, 1984, p.42).
Críticos colocaram em dúvida a fidedignidade e confiabilidade dos relatos do Novo Testamento, principalmente os Evangelhos, afirmando que eram os únicos documentos que comprovam a ressurreição, mas que foram feitos para suprir a incidência dos acontecimentos, e não passavam de lendas e mitos, dentro de um período, que vai da morte de Cristo e o tempo dos boatos sobre a sua ressurreição. Segundo Dr. Josh McDowell (1985, p. 43 apud Albright 1955, p. 136) “Já podemos dizer enfaticamente que não há nenhuma base sólida para datar qualquer livro do Novo Testamento depois do ano 80 A.D., já passaram duas gerações inteiras antes da data entre 130 e 150 dada pelos críticos mais radicais do Novo Testamento dos dias de hoje”.
Outros escritos importantes e relevantes para a compreensão da ressurreição são os proféticos e messiânicos do Antigo Testamento que dizem a respeito de Cristo, que se cumpriram categoricamente, e é impossível de afirmar que seja obra do acaso.
Para Hanegraaff :
Muitas destas profecias teriam sido impossíveis de Jesus deliberadamente conspirar para cumprir – tais como sua descendência de Abraão, Isaque e Jacó (vide Gn 12.3; 17.19, Mt 1.1,2; At 3.25); seu nascimento em Belém (vide Mq 5.2; Mt 2.1,6); sua crucificação com criminosos (vide Is 53.12; Mt 27.38; cf. Lc 22.37); a perfuração de suas mãos e pés na cruz (vide Sl 22.16; Jo 20.25) e o ato de os soldados lançarem sorte sobre suas roupas (vide Sl 22.18; Mt 27.35). (HANEGRAAFF , 1984, p.44)
2. TESTEMUNHO ORAL
O outro critério é o testemunho oral, que é a confirmação de fatos históricos, já que a história é validada através de testemunhos, sem testemunhos não há história. A tradição judaica lançava mão de documentos, que eram citações orais. No novo Testamento, temos o evangelho de Marcos que foi o primeiro livro escrito.
Marcos foi escrito lá pelo ano 60 d.C., o que significa dizer que uma geração já estava se indo depois dos acontecimentos da vida de Jesus, e os outros evangelhos mais ou menos uma década depois. Durante o período intermediário, o material referente aos eventos narrados pelos evangelistas foi preservado pela tradição oral. (DANTAS, 1987, p. 32).
Na sua primeira carta aos Coríntios, o apóstolo Paulo escreve no capítulo 15:3 VRC: “Pois primeiramente vos entreguei o que também recebi”. Como também no capítulo 11 da mesma carta, verso 23 VRC: “pois eu recebi...”. Segundo Hanegraaf (1984, p.56) “Paulo emprega terminologia judaica técnica usada para transmitir a tradição oral, quando utiliza palavras como entreguei e recebi. O credo está organizado em forma estilizada e paralela, o que reflete tradição oral.”
É tão forte a evidência histórica, que este credo já era usado 20 anos depois da ressurreição, ao passo que esta carta acima citada foi escrita entre 55 e 57 d. C. que se tornou credo da Igreja Primitiva, sendo a ressurreição também citada no Credo dos Apóstolos, no Credo de Nicéia no ano 325, sendo revisado no ano 381 em Constantinopla e na Confissão Belga. Segundo Hank Hanegraaff (1984, p.105) “igualmente, a Confissão de Westminster afirma que Cristo “foi crucificado e morreu; foi enterrado e permaneceu sob o poder da morte, contudo não viu a corrupção. No terceiro dia, Ele ressurgiu dos mortos”.”. Há fortes evidências da tradição que reforçam a autenticidade do relato bíblico.
O túmulo vazio é mencionado ou está implícito em fontes extremamente antigas, como o Evangelho de Marcos e o credo de 1 Coríntios 15, que provém de tão perto do evento que não podem ter sido produto de uma lenda. O fato de os evangelhos informarem que foram mulheres que descobriram o túmulo reforça a autenticidade da história. (STROBEL, 1998, p. 346).
Percebe-se a autoridade deste credo pela seguinte citação:
O credo de 1 Coríntios 15, que afirma a morte de Jesus por nossos pecados e relaciona suas aparições após a ressurreição a testemunhas oculares citadas pelo nome, já era recitado pelos cristãos em menos de dois anos após a crucificação. (STROBEL 1998 p. 348).
Muitas foram as testemunhas oculares que afirmaram ter visto Cristo ressuscitado, como por exemplo:
Mateus se refere a dois aparecimentos de Jesus ressuscitado:
Às mulheres que visitaram o sepulcro bem cedinho (Mt 28:9,10)
Aos onze apóstolos em uma montanha da Galiléia (Mt 28:16-18)
Marcos menciona três aparições:
A Maria Madalena (Mc 16:9-11)
Aos dois discípulos em caminho para o campo (Mc 16:12)
Aos onze, quando se assentam para tomar refeições (Mc 16:14)
Lucas menciona quatro aparições:
A Pedro (Lc 24:34)
A dois discípulos a caminho de Emaús (Lc 24:13-31)
Aos onze apóstolos “e outros com eles” (Lc 24:33-49)
Aos onze apóstolos no dia da ascensão
João conta quatro aparições:
A Maria Madalena (Jo 20:11-18)
Aos discípulos, estando ausente Tomé (Jo 20:19-24)
Aos discípulos, estando Tomé presente (Jo 20:26-29)
A sete discípulos na beira do mar de Tiberíades (Jo 21:1-23)
(DANTAS,1987, p.131,132)
Houve outros testemunhos não relatados nos evangelhos, mas em outros livros do Novo Testamento, como veremos a seguir:
A uma multidão de mais de 500 crentes numa montanha da Galiléia (1Cor 15:6)
A Tiago (1Cor 15:7)
Por ocasião da Ascensão (Atos 1:3-12)
A Paulo (Atos 9:3-6 / 1Cor 15:8)
A Estevão (Atos 7:55)
A Paulo no Templo (Atos 22:17-21 / Atos 23:11)
A João em Patmos (Apoc 1:10-19)
(McDOWELL, 1985, p.97).
Diante de tantas testemunhas oculares é impossível afirmar que a ressurreição é só um fato religioso. Na verdade ela é também um fato histórico. Logo tal testemunho não pode ser desprezado.
Em nossos tribunais, uma testemunha é suficiente para estabelecer um homicídio; duas, para alta traição; três, para a execução de um testamento; sete, para um testemunho oral. Sete é número maior exigido. A Ressurreição de Cristo teve quinhentas e quatorze. Não bastam? (EVANS e ORDER, 2000, p. 75).
Há, contudo, refutações às testemunhas, acreditando que elas estavam alucinadas. Um destes críticos, conhecido por ser um dos mais profundos eruditos do Novo Testamento, Rudolf Bultmann, advogava a idéia de que os discípulos, por terem uma fé de intimidade com Cristo começaram a criar uma série de alucinações por meio de visões subjetivas. Como também outro erudito Willi Marxsen, afirmava que para eles, os discípulos, originalmente, apenas teriam tido uma “visão” ambígua do Cristo Crucificado. Todavia, alucinações são causadas por drogas ou problemas psicológicos, o que realmente é contestável, já que foram não só os 12 discípulos, como mais de 500 pessoas que relataram o evento da ressurreição. É impossível que todas elas estivessem drogadas por alucinógenos, e não só isso, já que havia outros fatores que excluem esta teoria:
Alucinações são ocorrências individuais. Pela própria natureza, apenas uma pessoa pode ver uma alucinação em dado momento. Alucinações não são algo que possa ser visto por um grupo de pessoas. Também não é possível que alguém induza outra pessoa a ter uma alucinação. E como uma alucinação só existe neste sentido subjetivo, pessoal, é óbvio que outros não podem testemunhá-la. (STROBEL, 1998, p. 315 apud COLLINS, 1992, p. 60).
A Mentalidade judaica concebia a idéia de translação e não de ressurreição isolada e particular, mas, sim geral, pois a apocalíptica judaica não acreditava numa ressurreição permanente antes do Fim, que ainda estava no futuro, como se vê: “Respondeu Marta: Eu sei que ressurgirá na ressurreição, no último dia”. (Jo 11:24 VRC). Logo, as alucinações dariam vazão à translação e não a ressurreição.
“A translação é a assunção física de alguém deste mundo para o céu. A ressurreição é o levantamento de um homem morto no universo tempo-espaço. Assim, dadas as crenças judaicas relativas à translação e ressurreição, os discípulos não teriam pregado que Ele surgira dos mortos.” (HANEGRAAFF, 1984, p. 63).
Houve muitos críticos racionalistas como Emanuel Kant, que alegava ser a ressurreição um mito, já que ela contradizia a moralidade. Houve também um filósofo judeu, Benedito Spinoza, que tinha certeza de que o curso da natureza é fixo e imutável, assim o relato da ressurreição é rejeitado já que quebrava todas estas leis. Pois a ressurreição é um milagre, e milagre não se encaixa nelas. Segundo o teólogo e apologista reformado Cornelius van Til: “A lógica se aplica somente àquilo que é criado, não ao Criador. Deus é soberano sobre tudo.” (MONDIN, 2003, p. 208).
A verdade é que até mesmo entre os discípulos, havia um ar de desconfiança, se Cristo realmente ressurgiria. “O judaísmo contemporâneo não tinha conceito algum de um Messias que morreria e ressuscitaria.” (Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, 1983, p. 200).
Toda pessoa levantada por Deus na história de Israel, era chamada Messias, que quer dizer ungido, se a pessoa não fosse ungida, não poderia ser considerado um Messias, assim, Gideão, Davi, Moisés, entre outros, eram considerados Messias, pois foram ungidos. Todavia, a visão judaica não concebia um Messias que morreria, mas um vencedor, um herói, um revolucionário, principalmente em uma época em que o Império Romano subjugava as nações, como também a Israel. Daí a expectativa criada em torno de Cristo, como se percebe com os dois discípulos ao caminho de Emaús. Eles disseram: “Ora, nós esperávamos que fosse ele quem redimisse a Israel” (Lc 24:21 VRC). A esperança deles já havia morrido.
Depois da célebre confissão de Pedro em Cesaréia de Filipe, Jesus começou a ensinar sobre sua morte e ressurreição. Como poderia o Filho de Deus, que faz tantos milagres, um ser celestial, se tornar uma figura tão fraca com um discurso tão melancólico? Foi por isto que Pedro tenta repreender a Jesus. Assim, esta história de morrer e ressuscitar não se encaixava na mente dos discípulos. Eles não estavam preparados para a Sua morte. Certo dia, Jesus prepara os corações dos discípulos acerca da sua morte e da sua ausência. Filipe com uma mente judaica, diz: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isto nos basta.” (Jo 14:8 VRC), ele não entendia que diante dos seus olhos estava a perfeita plenitude do Pai (Cl 2:9). Todavia é plenamente aceitável a mentalidade dos discípulos, já que o Deus Jeová do Antigo Testamento tinha um discurso rígido, forte, e se manifestava de forma poderosa, a ponto de dizer por meio de Moisés que tudo seria “quebradura por quebradura, olho por olho, dente por dente” (Lev 24:20 VRC). Já Jesus Cristo discursava “Se alguém te bater na sua face direita, oferece-lhe também a outra” (Mt 5:39 VRC) e ainda mais dizer sobre a palavra morte a que mais os judeus temiam em face da crença de que Jesus era o Messias Libertador. Talvez por isso, quando Jesus ressuscitou, as primeiras testemunhas foram mulheres, e em virtude do grande preconceito a elas, nem mesmo os discípulos acreditariam, sendo que elas não serviam nem de testemunhas no tribunal. Segundo Hank Hanegraaf (1984, p. 49) “Se um homem cometesse um crime e fosse observado no próprio ato por algumas mulheres, ele não seria condenado com base no testemunho delas, visto que o testemunho delas era destituído de valor que nem mesmo era admitido em tribunal.”. Em Lucas 24:11 VRC, as mulheres dizem aos apóstolos que o Cristo havia ressuscitado, eles dizem que isto é um delírio. Esta palavra no grego é LEROS, que ocorre apenas uma vez em todo Novo Testamento, e significa: “conversa tola, sem sentido”, palavra que os escritores médicos usavam para definir as alucinações dos que sofriam de histeria. Logo, eles não estavam crendo nas mulheres, não só pelo preconceito incrustado neles, mas principalmente por que não criam na ressurreição. Quando Jesus aparece, eles ficaram “Eles, espantados e atemorizados, pensavam que viam um espírito.” (Lc 24:37 VRC) , demonstrando as suas incredulidades. Se os evangelistas narram o testemunho das mulheres é porque, mesmo diante do preconceito da época e da vergonha que certamente passariam, o evento e o testemunho delas era verdadeiro. Para se ter uma idéia de como o preconceito às mulheres era forte, havia orações judaicas de agradecimento feitas pelos homens por não terem nascidos mulheres. No Antigo Testamento, há narrativas de mulheres que oravam a Deus para terem filhos homens.
3. EVIDÊNCIAS MATERIAIS
O outro critério usado são as evidências materiais, que são as provas visíveis e palpáveis, para a confirmação do que já foi testemunhado e falado. Sendo a arqueologia, as provas científicas, relatos históricos e sociológicos.
3.1. A ARQUEOLOGIA
A arqueologia é uma arma poderosa de validação e precisão. O arqueólogo Jonh McRay disse que não há dúvida de que as descobertas arqueológicas reforçaram a credibilidade do Novo Testamento.
A arqueologia confirmou que Lucas, que escreveu 25% do Novo Testamento, era um historiador especialmente cuidadoso. Um especialista concluiu “Se Lucas era tão exato até nos mínimos detalhes em seus relatos históricos, em que base lógica podemos presumir que ele era crédulo ou inexato ao relatar assuntos que eram bem mais importantes, não apenas para ele, mas também para outros?”– como, por exemplo, a ressurreição de Jesus.( STROBEL, 1998, p. 343)
“Ele é um historiador de primeira linha; não apenas suas demonstrações são de fato confiáveis, como este autor deveria ser colocado ao lado dos maiores historiadores. A história de Lucas não é insuperável quanto à sua credibilidade” (MCDOWELl, 1985, p. 53 apud RAMSAY, 1962, p. 58)
Um estudioso por nome Muller desafiou os estudiosos de meados do século 19 a mostrar em qualquer lugar da história onde dentro de um espaço de trinta anos, um indivíduo foi cercado por tantas lendas, testemunhas e informações, como Jesus. Ninguém nunca enfrentou o desafio irrefutável de Muller.
Ainda que a arqueologia, em principio, não possa provar a Bíblia, oferece apoio geral para a historicidade bíblica.
Na edição de 25 de outubro de 1999, do U.S. News and World Report, Jeffrey Sheler diz:
Os arqueólogos que trabalhavam no teatro herodiano encontraram uma placa inscrita com palavras em latim: Tiberieum..{Pon}tiús Pilatus...{praef}ectus Juda{ea}e. “De acordo com peritos, a inscrição completa seria: ‘Pôncio Pilatos, Prefeito da Judéia, dedicou ao povo de Cesaréia um templo em honra de Tibério’. A descoberta da denominada Pedra de Pilatos foi amplamente aclamada como confirmação significativa da história bíblica, porque, em suma, confirma que o homem que os evangelhos descrevem que era governador romano da Judéia tinha precisamente as responsabilidades e autoridade que os escritores dos evangelhos lhe designam. Verdadeiramente, com cada virada de pá dos arqueólogos, continuamos vendo evidências da probidade das Escrituras. (HANEGRAAFF, 1984, p. 43).
3.2. AS PROVAS CIENTÍFICAS
Quanto à crucificação, tem-se o relato investigativo e científico do médico legista americano Frederick Zugibe, de 76 anos que utilizou uma cruz de medidas correspondentes da época (2,34 m X 2,00m), selecionou voluntários e monitorou eletronicamente cada detalhe. Ele afirma:
A coroa de espinhos cravou na sua cabeça e os espinhos penetraram no couro cabeludo, causando nevralgia do trigêmeo e do nervo occipital, com dores lancinantes (nem a morfina ameniza). Hematidrose, fenômeno raro em que, sob forte stress e pânico, veias das glândulas sudoríparas (as do suor), se comprimem e se rompem liberando sangue. Tórax e pulmões que com açoites violentos causaram trauma. Sangue e líquidos acumularam-se nos pulmões, Jesus teve muita dificuldade para respirar e, quando conseguia, sentia dores extremas. Teve hemorragia que causou colapso de um dos pulmões. Dores agudas no peito desencadearam pericardite (inflamação na membrana que envolve o coração). A vítima sofre tremores e desmaios. A vítima era reduzida a uma massa de carne, exaurida e destroçada, ansiando por água. (ZUGIBE, 1998, p. 79,80).
Segundo Lee Strobel, (1998, p. 259) “As veias do Sofredor ficavam abertas, e os músculos, tendões e órgãos internos da vítima ficavam expostos”.
O Dr. Josh Mcdowell (1985, p. 66) afirma: “a cruz causava no indivíduo: vertigem, cãibras, sede, fome profunda, falta de sono, febre traumática, tétano, vergonha, zombaria, tormento infinito, gangrena, tudo isto intensificamente, porém, a vítima não desmaiava. A morte era o alívio mais desejado”. Strobel diz (1998, p. 259) “no mínimo a vítima sofria dores terríveis e entrava em choque hipovolêmico”. Este choque retrata a perda constante de sangue.
É notória a informação do evangelho de João, que não era nenhum especialista médico, ao dizer que após a penetração da lança ao lado do corpo de Cristo “... imediatamente saiu sangue e água” (Jo 19:34 VRC), logo segundo Strobel (1998, p. 263 apud Metherell 1987, p. 125) “ o choque hipovolêmico deve ter feito o coração bater rapidamente por algum tempo, o que teria contribuído para fazê-lo falhar, resultando no acúmulo de líquido na membrana em torno do coração, chamada efusão pericardial”, logo o que João vê não é água, mas este líquido, o que comprova que Jesus já estava morto. Mesmo diante destas provas alguns questionam sobre este fato.
Afirma Ralfh Muncaster (2007, p. 363) que “em primeiro lugar os romanos eram executores profissionais, em segundo lugar Jesus era um prisioneiro político importante e em terceiro a morte por crucificação era extremamente lenta e certa.”
Diante de todas estas informações fica claro que, era impossível Jesus ter desmaiado e sair do sepulcro, muito mais ainda, ser um líder desejado pelos discípulos que, logo depois de vê-lo ressuscitado, animaram-se a ponto de se possível, morrer pela causa do evangelho. Aqueles homens sem nenhum recurso dos que existem hoje, alcançaram com a palavra de Deus o mundo antigo de sua época, em menos de 30 anos.
Depois da morte, o corpo de Cristo, foi entregue a José de Arimatéia, como se vê: “Então tirou o corpo do madeiro, envolveu-o num lençol...” (Lc 23:53a VRA). A palavra envolver, no grego significa “embrulhar envolvendo firmemente”. Eram usados cerca de 45kg entre linho e especiarias para embalsamar o corpo, parecia um casulo, isto pelo fato de que estas especiarias ajudariam no processo de conservação do corpo. Na manhã de domingo, quando Pedro aparece depois de receber a notícia ele se inclina para olhar para o túmulo, e ver que “... os lençóis de linho...” (Lc 24:12 VRA), estavam como antes.
Segundo o comentário da Bíblia Anotada (1976, p.1314) “A despeito da ausência do corpo, os panos retiveram a mesma forma e posição de quando o corpo neles estava envolvido”. Logo, dificilmente alguém teria roubado o corpo, até porque era necessário desenrolá-lo, desarrumar tudo, ou levar tudo, todavia os lençóis estavam como antes, como também era impossível o defunto se desprender de uma estrutura tão firme como esta.
O corpo de Jesus foi visto (Mt 28:17), ouvido(Jo 20:15-16) e tocado(Mt 28:9). Não foi a carne que ressuscitou, mas o corpo, e é por isso que Paulo distingue SARX (carne) de SÔMA (corpo), para demonstrar que não foi uma ressurreição espiritual, que era impossível de ver, mas uma ressurreição física. É impressionante que depois de ressuscitar, Jesus ainda arrumou a cama.
3.3. FATOS HISTÓRICOS E SOCIOLÓGICOS
Jesus era um preso político de grande importância. Para tais presos se tinha uma guarda especial composta de pelo menos 16 soldados, que segundo Mateus 27:65 era conhecida como koustodia, a qual era responsável para guardar um túmulo que estava selado.
O selo era o símbolo do inviolável. O Dr. Josh McDowell diz (1985, p. 84) que “os selos na antiguidade eram realmente considerados como um meio de autenticação”. Logo estes soldados morreriam se o selo fosse violado, só “ao capitão da guarda era permitido dar a permissão para se quebrar o selo. Qualquer pessoa que o quebrasse sem permissão seria executada.” (MUNCASTER, 2007, p. 362). Todavia o selo foi quebrado. Certamente não foram os discípulos, pois estavam em casa trancados e temerosos (Jo 20:26), não foram os guardas, já que isto custariam as suas vidas, mas com certeza o poder de Deus.
Percebe-se que a ressurreição transformou abruptamente até mesmo as tradições, levando em consideração que para se quebrar uma tradição é algo quase que impossível, pois ela está embasada em cima de dois poderosos pilares: o tempo e a cultura. Lee Strobel (1998, p. 332) afirma “aquelas pessoas valorizavam a tradição. Elas viviam em uma época em que, quanto mais antigo fosse, melhor.”. Logo é necessário bastante tempo para mudá-las, todavia elas foram absolutamente transformadas em menos de quarenta anos, assim, algo muito extraordinário aconteceu. Segundo Lee Strobel (1998, p. 332) “essas mudanças nas estruturas sociais dos judeus não foram meros ajustes feitos ao acaso, elas foram monumentais. Foi equivalente a um terremoto social”.
Uma das mais fortes tradições que foram radicalmente mudadas pela ressurreição, foi o sábado, que era o dia de descanso e um dos dez mandamentos, que posteriormente ao Êxodo se transformou também em celebração de adoração. Era tão forte que nem pessoas, nem animais trabalhavam. Era permitido apenas ir ao Templo adorar. Criam que se quebrasse o sábado, certamente iriam sofrer com a ira de Deus. Mas com a ressurreição no domingo, este dia tomou o lugar do sábado, já que neste dia também houve a descida do Espírito Santo. Não só o sábado, mas também o sistema sacrificial foi alterado. De acordo com Hank Hanegraaff (1984, p.74) “o sistema sacrificial foi radicalmente transformado pela ressurreição de Cristo”, demonstrando que já não havia necessidade de se sacrificar animais, pois o sacrifício de Cristo foi eficiente. Não só o sábado e o sacrifício foram transformados, mas também os sacramentos, que para Israel eram a páscoa e o batismo. A Páscoa foi substituída pela Ceia do Senhor, e o batismo agora contemplava também os gentios.
Só a ressurreição teria o poder de mudar tradições de uma comunidade de quase dez mil pessoas, que abandonaram costumes sociais e religiosos milenares, para seguir a Jesus, o carpinteiro de Nazaré.
4. UM FATOR TRANSFORMADOR
É necessário ressaltar o poder transformador da ressurreição nos discípulos e apóstolos. Como se percebe na narrativa do perseguidor dos cristãos, Saulo. Ele era um erudito da época, conhecedor profícuo do farisaísmo, instruído pelo maior rabino do momento, conhecido como Gamaliel. Era conhecedor das línguas contemporâneas e mais conhecidas do mundo antigo, e se converteu ao Cristianismo, a ponto de morrer por sua fé, certamente a ressurreição que ele tanto anunciava não era uma farsa. Para Josh McDowell (1985, p. 146) “a conversão de Paulo foi tão dramática, que, em termos atuais, seria o equivalente, ao Papa, que é o líder mundial da Igreja Católica, tornar-se Protestante.” Outro, era Tiago, irmão de Jesus. Diz assim Hank Hanegraaff (1984, p.73) “antes odiava tudo o que seu irmão defendia. Depois da ressurreição se chamou “servo {...} do Senhor Jesus Cristo.” (Tg 1.1)”. Tiago tornou-se um mártir.
Considera-se o martírio uma das fortes evidências que corrobora a veracidade da ressurreição, pois quem morreria por uma lenda, ficção ou mentira? Pedro segundo a tradição foi morto em 67 d.C. com os pés acorrentados e crucificado de cabeça para baixo. André morreu em 69 d.C. numa cruz em forma de “X”. Tomé foi ferido com uma lança. Mateus foi decapitado. Não só estes, mas centenas de cristãos morreram voluntariamente.
“Os cristãos enfrentaram espadas, leões, fogueiras, carrascos, mas continuaram a pregar o Cristo vivo até que todo o mundo conhecido tivesse notícia do fato.” (DANTAS, 1987, p. 156). Pois certamente só um fato singular em suas vidas deram a eles esta coragem, a saber, a ressurreição. Eles não tinham fé suficiente para crê na ressurreição, mas sim, a ressurreição produziu neles uma fé inabalável, ao ponto de se tornarem ousados e persistentes arautos do Evangelho. Pois a ressurreição não é só um fato histórico, mas também um fator transformador, já que a fé se baseia na ressurreição, Paulo diz: “Se com tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo” (Rm 10:9 VRC), também se promoveu justificação: “... e ressurgiu para a nossa justificação.” (Rm 4:25 VRC), e dá esperança: “Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos.” (Rm 6:8 VRC) , doutra forma sem a ressurreição é impossível existir Cristianismo, daí o apóstolo Paulo dizer: “E, se Cristo não foi ressuscitado, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados.” (1 Co 15:17 VRC). Depois da Inspiração, é a doutrina mais importante da fé cristã, ela é o clímax do Evangelho.
5. TEORIAS CÉTICAS SOBRE A RESSURREIÇÃO
Teoria do Desmaio: Um racionalista chamado H. E. G. Paulus, dizia que Jesus nunca morreu na cruz, ele desfaleceu, e posteriormente tirado dela é levado ao túmulo, depois de algumas horas as especiarias aromáticas usadas para embalsamá-lo o despertaram, aí ele vestiu as roupas de jardineiro que confundiu Maria Madalena. Um dos questionamentos que se tem é como Jesus depois de ser violentamente espancado conseguiu empurrar uma pedra com cerca de duas toneladas?
Teoria dos Gêmeos: Segundo o filósofo Robert Greg Cavin, Jesus tinha um irmão gêmeo chamado Hurome que foi separado de Jesus no nascimento e depois de alguns anos vê a imagem de Jesus na cruz e percebe que é seu irmão, assim Hurome roubou o corpo de Jesus do sepulcro e se passou por ele. A questão é como nem Maria e nem José sabiam deste outro filho? Segundo Robert Greg, eles foram trocados acidentalmente. Que bela invenção.
Teoria Mulçumana: Diz-se que Deus fez uma pessoa parecida com Jesus e o colocou na cruz, este morreu por engano em nosso lugar. Logo Deus também anda muito enganado e fazendo de inocentes, bodes expiatórios.
Teoria da Torre de Vigia: Diz que Jesus foi criado igual ao Arcanjo Miguel, pois depois que Jesus se tornou humano não conseguiu voltar ao estado original de criatura exaltada, então Deus disse: “Vou transformá-lo em um anjo, senão ele será um homem nos céus eternamente, assim, é melhor que ele seja um anjo”.
Teoria do Túmulo Errado: Alguns advogam a idéia de que por muitas famílias terem túmulos por toda aquela região, pode ter acontecido dos próprios discípulos terem errado o túmulo de Jesus. Como diz Josh McDowell (1985, p.108): “E finalmente, teríamos que concluir que o anjo apareceu no túmulo errado”
CONCLUSÃO
A ressurreição transformou incautos em pregadores ousados do evangelho, covardes em intrépidos mártires, homens duvidosos em embaixadores conscientes do Reino, levando-os a uma coragem indizível, mesmo diante da morte que era certa em muitas ocasiões. Este evento não ficou limitado só no 1° século da igreja, ou somente se restringiu aquelas poucos milhares de pessoas, em pequena faixa territorial, mas é um fator tão transformador que atingiu milhões de pessoas de todas as épocas e lugares em todo o mundo, pulsando até hoje em muitas vidas. Pelas provas acima citadas, vê-se que a ressurreição é um fato histórico que se encaixa nos moldes da História, tanto pelas testemunhas, pelos fatores científicos, arqueológicos, sociológicos e judiciais. Crê-se tanto neste evento histórico que qualquer cristão tem a sensação de está presente naquele dia de domingo pela manhã, olhando pelo prisma ótico da Bíblia, para aquele túmulo que até hoje se encontra vazio.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A Bíblia Anotada. Editora Mundo Cristão. São Paulo. 1969.
DANTAS, Anísio Batista. A Ressurreição de Jesus Cristo. 1ª edição. Cpad. Rio de Janeiro. 1987.
Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. 1ª edição. Edições Vida Nova. São Paulo. 1983.
EVANS, William e ORDER, Maxwell. Exposição das Grandes Doutrinas Bíblicas. 1ª edição. Imprensa Batista Regular. São Paulo. 2000.
HANEGRAAFF, Hank. Ressurreição. 1ª edição. Cpad. Rio de Janeiro. 1984.
McDOWELL, Josh. As Evidências da Ressurreição de Cristo. 2ª edição. Editora candeia. São Paulo.1987.
MONDIM, Battista. Introdução à Filosofia. 1ª edição. Editora Paulus. São Paulo. 1980.
MUNCASTER, Ralph O. Examine as Evidências. 1ª edição. Cpad. Rio de Janeiro. 2004.
STROBEL, Lee. Em Defesa de Cristo. 1ª edição. Editora Vida. São Paulo. 1998.
ZUGIBE, Frederick. A Autópsia de Cristo. Revista Isto é. Editora Três. São Paulo. 20 de fevereiro de 2008. Nº 1998, ano 31.
WUEST, Kenneth S. Jóias do Novo Testamento Grego. 3ª edição. Imprensa Batista Regular. São Paulo. 1986.
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